sábado, 18 de abril de 2009

Inicio este meu post com o necessário pedido de desculpas por só agora me apresentar. Sou a MJC e sou professora de Inglês e Alemão do 3º ciclo e secundário. A minha filha tem 10 anos (quase 11) de idade e frequenta o 5º ano de escolaridade numa escola pública.
Comecei a ficar alerta no início do 2º ano de escolaridade, quando a minha filha começou a escrever mais e os erros ortográficos começaram a ser muito frequentes, associados à troca de letras (p/b/t/q) e inversão da ordem das letras nas sílaba, bem como o "desaparecimento" puro e simples de certas letras ou sílabas na frase. A minha filha tinha um vocabulário bastante rico na oralidade, mas começou a revelar dificuldades na leitura, nomeadamente de palavras mais compridas, que ,na oralidade, utilizava com facilidade. Lia muito devagar e isso começou a notar-se a partir do momento em que começaram a surgir textos um pouco mais longos.
Comecei a procurar informação acerca de problemas de aprendizagem no 1º ciclo e, como já tinha ouvido falar de dislexia, iniciei pesquisas sobre o tema para tentar verificar se os "sinais" ou "sintomas" condiziam com o que observava na minha filha.
Em simultâneo fui falar com a professora dela e falei-lhe das minhas dúvidas ou desconfianças (como lhes queiram chamar). Sei que sou professora, mas entendo muito pouco de pedagogia ou didáctica de primeiro ciclo. Convenci-me que uma professora de primeiro ciclo, já com experiência de ensino, saberia melhor se o que eu notava na minha filha era "natural" num início de aprendizagem da língua ou não.
A professora foi peremptória: nada se passava digno de nota com a minha filha; era natural ela dar erros e trocar certas sílabas por estar ainda no início do segundo ano. O que ela tinha era um pouco de imaturidade e era um pouco distraída, mas isso ia passar com o tempo e com a continuação de frequência da escola e habituação à mesma.
Como eu continuasse a manifestar as minhas dúvidas e receio que fosse, de facto, algo mais - acrescentei a medo "quem sabe, dislexia ..." - a professora assegurou-me que não se tratava de tal coisa. Ela estava habituada a exercer como professora de ensino especial e tinha, inclusive, acompanhado crianças com dislexia no ano lectivo anterior, na qualidade de professora de ensino especial. Tinha a certeza que a minha filha não tinha esse problema!
Era certamente a minha deformação profissional a fazer-me ter "bichinhos" na cabeça, pensei eu. Mal! Muito mal, descobri mais tarde!
As coisas agravaram-se, à medida que os conteúdos foram ficando mais complexos e os textos mais longos ... Comecei a desconfiar do diagnóstico da dita professora e decidi tirar as coisas a limpo.
Falei com o pediatra da minha filha que me indicou uma pedopsiquiatra. Contactei a pedopsiquiatra, ela consultou a miúda, diagnosticou Q.I. acima da média e normalidade emocional ... mas encaminhou-me para uma colaboradora sua que era especializada em problemas de aprendizagem.
Três sessões depois fiquei com a certeza (que pouco feliz me deixou) que afinal eu estava certa desde o início: a minha filha tinha problemas de lateralidade e dislexia (mais ou menos isto, mas em termos mais técnicos).
Entretanto, comecei a falar com colegas minhas do ensino especial lá na minha escola e uma delas falou-me duma especialista que era doutorada na coisa ... :-(. Pedi o contacto e fui consultá-la com a minha filha.
A Professora Doutora Helena Serra confirmou o diagnóstico feito pela outra especialista. Adorei a sua simplicidade, a eficácia com que realizou o diagnóstico e a clareza com que me explicou o que se passava com a minha filha e que caminhos seguir para a ajudar.
Mais tranquila, mas com um nó no peito, decidi seguir em frente, agora com a certeza absoluta do que se passava com a minha filha. Tenho "esgravatado" muito e enfrentado muita falta de compreensão, mas a luta continua ... e vai continuar sempre, de cabeça erguida e com muito ânimo. Há algo que me custa imenso: sentir que não tenho o tempo suficiente para acompanhar a minha filha e que, neste país, há poucas ou nenhumas ajudas para os disléxicos.
Aqui fica a minha apresentação. Prometo mais pormenores se assim o desejarem ...

6 comentários:

  1. Boa noite MJC
    Com efeito após feita leitura da sua apresentação, concluo que tudo aquilo que tem passado se assemelha a muito daquilo que tenho vivido.
    O problema da dislexia enfrentado pelo meu filho, é menor comparado com alguns exemplos neste blogue referenciados, daí a pouca ou nenhuma atenção demonstrada pelos professores e outros profissionais a quem me tenho dirigido.
    Por vezes, é simplesmento considerado uma criança malcriada, porque é um muito muito curioso e muito interrogativo, questionando tudo.
    Acredito que por vezes seja desesperante, numa turma de 20 alunos.

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  2. Boa noite aou a Estrela,

    Fiquei muito contente MJC de finalmente ter participado neste trabalho. Também tenho "esgravatado" muito e sempre olhando o futuro sem nunca baixar os braços porque os nossos filhos merecem tudo de bom. O que me preocupa neste momento é o Decreto-Lei 3/2008 em referência aos exames nacionais 12º ano. O meu filho tem 10-11 anos a mais que os miúdos referenciados neste trabalho, Acredite que à 11 anos atrás era mais difícil de "esgravatar" do que agora.
    Seja bem-vinda.
    Estrela.

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  3. Olá MJC,

    Como me identifico com a sensação de falta de tempo para acompanhar a minha filha...
    Sinto, às vezes que é muito complicado chegar do trabalho tarde e insistir com ela para lermos um bocadinho e ver que ela já está cansada e que se eu saisse mais cedo tudo seria diferente. Ainda por cima, embora ande a ler muito sobre o assunto,não acho que esteja bem preparada para a ajudar e vejo que as pessoas da escola (embora no meu caso tenham muito boa vontade) também não sabem muito bem o que me aconselhar...

    Até breve,
    Marta

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  4. Olá, boa dia!!! Sou professora e recentemente recém formada e recentemente estou dando aulas a um disléxico.Ele já tem 17 anos e faz o 2º ano do Ensino Médio.Gostaria de saber sobre o tratamento da dislexia.Aguardo resposta.Grata.
    L.P.L

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  5. Olá Lorena,

    Esta comunidade é sobretudo constituída por pais de alunos com dislexia e como tal podemos melhor aconselhar sobre estratégias a empregar em casa. Contudo existem alguns locais em que profissionais discutem o assunto. Deixo aqui um forum onde professores trocam algumas estratégias e onde poderá colocar-lhes as suas dúvidas:
    http://www.saladosprofessores.com/

    Reparei também que deve ser professora no Brasil, não sei se estarei certa? Se sim, no orkut há dezenas de comunidades que discutem o assunto e lá poderá ter muitas indicações bibliográficas interessantes. Conheço alguns cadernos de exercícios para dislexicos mas são portugueses e não sei se serão comercializados fora de Portugal. Se lhe interessar, disponha.

    Carla.

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  6. olá
    a dislexia , e uma realidade e um desafio do meu dia a dia,sou dislexica e tenho 2 filhos,e o 16 anos tambem dislexico.
    Tenho o 12ªano, sou escritoraria,e tenho uma familia organizada e feliz.O meu filho passou para 12ªano nunca reprovou, tem media de 12,5 é um exelente musico,um jovem conciente das suas dificuldades,mas tambem das suas virtudes.
    A dislexia e apenas um obstaculo que temos de aprender a contronar,arranjando novas formas para comunicar,reajustando regras,criando defesas
    Acreditem eu tenho a minha expriencia como exemplo é possivel vencer a dislexia e realizar os nossos objectivos
    Vivemos numa sociadede em que a leitura e a escrita são a chave para o todos os saberes,o que eu concordo,o problema é so haver uma forma de ensinar .
    Penso que a resolução da dislexia passa por a formação dos educadores e professores,para que possam ensinar a todos.
    Ainda hoge nas nossas faculdades não á formação expecifica sobre dislexia.A maioria dos professores dos nossos filhos não sabem o que fazer, como lidar com os meninos dislexos, apesar de toda a boa vontade a verdade e que não tiveram formação.
    Para nim dislexia é um problem escolar
    Paula Santos

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